Doutorado em Psicoterapia e Aconselhamento (Universidade de Massachusetts) e em Neurociências (Universidade de Santiago de Compostela), Óscar Gonçalves assumiu a direção do CINTESIS.UPT e a coordenação do Doutoramento em Psicologia Clínica e Aconselhamento. Autor de mais de 200 publicações e 11 livros, o Professor Catedrático fala do desafio de “acelerar a investigação em Psicologia”.
Comunica UPT: Quais as motivações que o levaram a aceitar o desafio de assumir a direção do CINTESIS.UPT?
Óscar Gonçalves: Ao longo da minha carreira académica, tenho estado sempre integrado em centros de investigação, tanto na investigação básica como aplicada, com uma forte ligação à saúde. Interessa-me particularmente compreender de que forma a nossa investigação básica em psicologia e neurociências pode contribuir para a inovação, eficiência e efetividade dos serviços de saúde, bem como para a promoção da qualidade de vida e da saúde das populações, especialmente no que toca à saúde mental. O CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde é uma maiores redes nacionais de investigação em saúde. Foca-se precisamente em integrar investigação fundamental, clínica e aplicada, com o objetivo de acelerar o ciclo de investigação translacional. Nesse sentido, considero uma oportunidade privilegiada poder dirigir um polo desta rede na UPT, procurando, precisamente, aceleração da investigação fundamental em psicologia, em articulação com alguns dos melhores investigadores em saúde de Portugal.
Quais os objetivos do CINTESIS.UPT a curto e médio prazo?
A curto prazo, o objetivo é estabelecer o CINTESIS.UPT como um ecossistema de investigação, criando grupos de investigação e dando início à sua atividade programática. O CINTESIS tem já em curso projetos de investigação em três domínios centrais: neurociências aplicadas, psicologia clínica e da saúde, aconselhamento e desenvolvimento humano. Temos uma equipa pequena, mas muito promissora, de jovens investigadores, que, apesar da juventude, já demonstra uma grande solidez científica. A curto prazo há que colocar os investigadores a funcionarem, efetivamente, como equipa de modo a conseguir uma identidade programática do CINTESIS.UPT e otimizar os seus recursos humanos e materiais. A médio prazo, pretendemos fomentar a colaboração quotidiana dos nossos investigadores nesta extraordinária rede do CINTESIS, promovendo a internacionalização do CINTESIS.UPT e integrando-o em redes e equipas de excelência, adaptadas a cada grupo de investigação.
Quais os principais projetos de investigação que tem em curso?
Nos últimos anos, a minha investigação tem-se centrado na identificação de diferentes mecanismos neuronais associados a estados de consciência diversos, desde patologias da consciência, como o coma e os estados vegetativos, até estados singulares e complexos de consciência, como o sonho acordado, absorção estética e meditação. Em última instância, o objetivo é, uma vez identificados estes marcadores neuronais, explorar formas de modelar esses estados de consciência para fins clínicos e para otimizar experiências de vida. Um exemplo é o estudo que temos em curso sobre o funcionamento do cérebro de músicos durante momentos de improvisação musical e como a qualidade da performance pode estar associada a estados específicos de consciência de improvisação mental e de criatividade. Acredito que estudos como este podem contribuir para modelar os mecanismos cerebrais associados a estados de consciência facilitadores da criatividade, que vão muito para além da performance artística e têm diretamente a ver com a saúde mental e qualidade de vida da pessoa.
Como decorreu o seu percurso académico?
O meu percurso académico é já longo. Ainda como estudante do 4.º ano de licenciatura em Psicologia, fui contratado como monitor pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. No final da licenciatura, fui iniciar a carreira na qualidade de assistente, antes de partir para a Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, onde me doutorei em psicoterapia e aconselhamento. Após o regresso a Portugal, fui ainda professor auxiliar na Faculdade de Psicologia do Porto e, mais tarde, na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, nos Estados Unidos. De novo regressado a Portugal, fui desafiado a criar um curso de Psicologia na Universidade do Minho, onde desenvolvi grande parte da minha carreira académica até alcançar a categoria de Professor Catedrático. Pelo caminho, realizei um segundo doutoramento, desta vez em Neurociências, na Faculdade de Medicina da Universidade de Santiago de Compostela em Espanha. Regressei aos Estados Unidos, onde fui Professor Catedrático e Diretor do Departamento de Psicologia Aplicada na Northeastern University em Boston. Pouco depois de voltar a Portugal, fui contratado como Professor Catedrático pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra, de onde me aposentei em agosto deste ano, antes de assumir as atuais funções na UPT, como diretor do CINTESIS.UPT e Coordenador do Doutoramento em Psicologia Clínica e Aconselhamento.
Quem é o Professor Óscar, para além da academia e da investigação?
Fora da Academia, sou talvez conhecido pela minha atividade desportiva, que pratico desde a juventude. São dois mundos paralelos, mas que, na minha vida são indissociáveis. Comecei no atletismo, onde fui maratonista e ultramaratonista, e mais tarde tornei-me um dos primeiros atletas de triatlo em Portugal. Atualmente, sou nadador federado master do Clube Fluvial Portuense, competindo regularmente em provas de piscina e águas abertas, tendo já conquistado alguns títulos nacionais. Na ciência, tal como no desporto, motivam-me o desempenho de alto nível, a disciplina do esforço sistemático, o estabelecimento de objetivos, e a persistência no caminho para os atingir. E, acima de tudo, o gosto em alcançar esses objetivos num ambiente de diversão e entusiasmo.