Elizabeth Real, Vice-Reitora para a área de Ensino, fala dos novos projetos para aumentar a interdisciplinaridade e promover ambientes de aprendizagem mais inclusivos e dinâmicos, com o intuito de qualificar e transformar a experiência educativa.
Comunica UPT: A criação do Prémio de Inovação Pedagógica intensifica a ambição da Universidade Portucalense de melhorar a qualidade de ensino e o sucesso académico dos seus estudantes, através da inovação pedagógica. Como se define e em que se traduz a inovação pedagógica?
Elizabeth Real: A inovação pedagógica representa uma transformação profunda das práticas educativas, que vai além da mera introdução de novas tecnologias ou instrumentos. Trata-se de uma mudança de paradigma centrada no estudante, que privilegia metodologias interativas, colaborativas e contextualizadas, valorizando a autonomia, o pensamento crítico e a participação ativa no processo de aprendizagem.
Esta abordagem procura romper com modelos tradicionais de ensino meramente expositivos, promovendo a interdisciplinaridade e desenvolvendo ambientes de aprendizagem mais inclusivos e dinâmicos. A criação do Prémio de Inovação Pedagógica evidencia uma compreensão estratégica desta conceção de inovação, reconhecendo-a não como um objetivo isolado, mas como um meio essencial para qualificar e transformar a experiência educativa.
No concreto, o que se pretende mudar no processo de ensino-aprendizagem?
No âmbito da nossa estratégia de desenvolvimento pedagógico, a Universidade Portucalense propõe-se a implementar uma abordagem educativa verdadeiramente transformadora. Os critérios de avaliação do Prémio de Inovação Pedagógica – Inovação, Impacto, Sustentabilidade, Replicabilidade, Inclusão e Responsabilidade Social – representam um compromisso institucional com a modernização e qualificação dos processos de ensino-aprendizagem. Pretendemos promover metodologias que posicionem o estudante como agente ativo e protagonista do seu percurso académico. A interdisciplinaridade emerge como um elemento fundamental desta estratégia, permitindo aos estudantes compreender as complexas interconexões entre diferentes áreas do conhecimento. Por outro lado, a integração pedagógica de tecnologias digitais não será meramente instrumental, mas constituirá um elemento estruturante de novos métodos de ensino-aprendizagem. Simultaneamente, assumimos o compromisso de criar ambientes académicos verdadeiramente inclusivos, que reconheçam e valorizem a diversidade dos estudantes e os múltiplos estilos de aprendizagem, potenciando, assim, as condições para o sucesso académico.
Nos últimos dois anos, a Universidade Portucalense tem apostado continuamente em ações de promoção da inovação pedagógica. Qual o balanço que faz desta trajetória?
Nos últimos anos, tem sido desenvolvido um caminho consistente e estratégico no âmbito da inovação pedagógica. Implementámos um conjunto de iniciativas que transformaram significativamente a abordagem tradicional de ensino. Desenvolvemos programas de formação docente orientados para as metodologias ativas e promovemos a integração progressiva de tecnologias digitais nos processos de ensino-aprendizagem. Paralelamente, procedemos a uma revisão profunda das fichas das unidades curriculares, com três objetivos fundamentais: clarificar de forma rigorosa as competências a serem adquiridas pelos estudantes, estabelecer um compromisso claro com o cumprimento das metas previstas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e introduzir diretrizes sobre a utilização ética e responsável da Inteligência Artificial Generativa. O balanço que fazemos é francamente positivo. Conseguimos criar uma dinâmica de mudança, sem ruturas abruptas, mas com uma implementação consistente e sustentada de novas metodologias pedagógicas. O objetivo é continuarmos a evoluir, aprendendo com cada experiência e adaptando-nos permanentemente aos desafios educativos atuais.
Quais as mudanças já verificadas no desempenho dos docentes e estudantes com a implementação de práticas educativas inovadoras?
No que respeita aos docentes, observámos uma transformação significativa na sua postura pedagógica. A maioria dos professores, que frequentaram as ações de formação promovidas pelo Gabinete de Inovação Pedagógica, passaram de uma abordagem expositiva tradicional para a adoção de metodologias interativas e dialogantes, onde assumem o papel de facilitadores da aprendizagem. Verificámos ainda uma maior predisposição para utilizar metodologias ativas, como aprendizagem baseada em problemas, trabalhos colaborativos e recursos digitais diversificados. Relativamente aos estudantes, regista-se uma maior proatividade na construção do conhecimento, capacidade de autorreflexão sobre os processos de aprendizagem e desenvolvimento de competências transversais como pensamento crítico, trabalho em equipa e adaptabilidade.
Quais são os projetos futuros que se podem esperar neste âmbito?
Neste ano letivo implementaram-se os programas “+Sucesso@UPortucalense” e “Programa de Promoção da Saúde Mental no Ensino Superior”, cofinanciados pela Direção-Geral do Ensino Superior, com o objetivo de combater o abandono e aumentar a retenção dos estudantes. Assim, neste âmbito, em 2025, teremos a consolidação do modelo de mentoria (por pares), o estabelecimento de um modelo de tutoria individualizado, a aplicação de práticas inovadoras de ensino e aprendizagem, e o fortalecimento de mecanismos de autoaprendizagem e trabalho em equipa. Encontramo-nos ainda a trabalhar num modelo de análise preditiva com base em informação sociodemográfica e de desempenho académico de anos anteriores, e um sistema de alerta que permita sinalizar e monitorizar situações de risco. Destaco, também, o Observatório do Estudante que, não sendo novo, será reforçado, com o objetivo de promover o estudo longitudinal de caracterização e avaliação dos estudantes, desde a sua transição para o 1º ano do Ensino Superior até ao mercado de trabalho. Procuraremos, ainda, equipar docentes e estudantes com os conhecimentos acerca dos desafios típicos vivenciados pelos estudantes na sua transição e adaptação ao ensino superior e riscos de abandono e insucesso académico, enfatizando a identificação de sinais de alerta precoce das suas dificuldades académicas, emocionais e sociais.