Mónica Alcindor, docente e investigadora em Antropologia do Património Arquitetónico, assumiu a Direção do CIAUD-UPT. Tem como objetivo “promover uma maior interdisciplinaridade” entre investigadores, para “criar um ambiente de trabalho colaborativo, onde o conhecimento de diversas áreas possa convergir e enriquecer os três desafios societais: a adaptação às alterações climáticas, a transição digital e os novos paradigmas sociais”.
Comunica UPT: Quais as motivações que a levaram a aceitar o desafio de assumir a Direção do CIAUD-UPT?
Mónica Alcindor: As principais motivações para aceitar este desafio foram, em primeiro lugar, a confiança depositada em mim para esta função e o potencial que vejo no CIAUD-UPT para impulsionar a investigação numa direção inovadora e interdisciplinar. Acredito que temos uma grande capacidade para contribuir com soluções para questões atuais na Arquitetura e no Urbanismo, promovendo colaborações que valorizam a ciência e a sociedade. De facto, a intenção será promover uma abordagem baseada nos princípios da ciência cidadã, seguindo as diretrizes da European Citizen Science Association.
Quais os principais projetos de investigação em curso?
Atualmente, destacam-se alguns projetos de grande relevância. O projeto “ArchiSpace”, apoiado pelo programa HORIZON – European Marie-Curie Action -, que se iniciou este mês de novembro e envolve uma equipa transdisciplinar da Universidade Portucalense. Com o “ArchiSpace” pretendemos conceber e construir espaços habitáveis para infraestruturas humanas em superfícies planetárias, que serão testados em ambientes planetários análogos. Também destaco a colaboração no projeto “ArchEthics”, do programa URBACT, que procura desenvolver políticas urbanas sustentáveis para gerir o património dissonante, promovendo uma nova compreensão sobre este tipo de património. Além disso, também a destacar a colaboração no projeto “EU Urban Regeneration to achieve the Green Deal Objectives”, do programa Jean Monnet RegenEU, coordenado pela Professora Sónia de Gregorio, da Universidade Politécnica de Madrid.
Destaca algum em particular pela sua relevância?
Um projeto de particular relevância para mim é o “ArchEthics”, pois teve origem num artigo que publiquei e que está a ter um impacto concreto na sociedade ao reverter a concessão do Castelo de Vila Nova de Cerveira, devolvendo-o novamente à comunidade. Um simples artigo acabou por ser o motor para mudanças significativas na gestão patrimonial.
Quais os objetivos do CIAUD-UPT a curto e médio prazo?
A curto e médio prazo, o objetivo é alinhar as áreas de investigação com as Unidades Curriculares de cada investigador, de modo a que a investigação tenha um impacto direto e positivo no ensino do Departamento. Esse alinhamento poderá reforçar a qualidade da formação oferecida e ampliar o envolvimento dos estudantes em projetos de investigação de relevância.
E os principais desafios?
O principal desafio consiste em promover uma maior interdisciplinaridade entre os membros do CIAUD-UPT com outras equipas da Universidade Portucalense. Este passo é essencial para criar um ambiente de trabalho colaborativo, onde o conhecimento de diversas áreas possa convergir e enriquecer os três desafios societais: a adaptação às alterações climáticas, a transição digital e os novos paradigmas sociais.
Como decorreu o seu percurso académico?
Iniciei o meu percurso académico com a licenciatura de Arquitetura na Universidade de Sevilha. Depois, realizei um doutoramento em Património Arquitetónico na Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona, da Universidade Politécnica da Catalunha, que explorou intervenções na arquitetura tradicional no Baix Empordà, e que me valeu o Primeiro Prémio Ibérico de Investigação em Arquitetura Tradicional. Movida pela paixão pelo conhecimento, obtive uma segunda licenciatura em Antropologia Social e Cultural pela Universidade Nacional de Educação a Distância, que me proporcionou uma visão mais ampla da dimensão cultural do Património. Esse percurso académico, combinado com a experiência prática no meu próprio escritório de Arquitetura na Catalunha, permitiu-me adotar uma abordagem holística do património arquitetónico, integrando o tangível e o intangível.
Quem é a Professora Mónica, para além da academia e da investigação?
Para além do meu trabalho académico, gosto de praticar desporto, especialmente, ciclismo e natação. Gosto também de ler, principalmente, antropologia e filosofia, e de viajar para conhecer outras sociedades e modos de vida.