Miguel Lemos, 41 anos, entrou na Universidade Portucalense para estudar Economia em 2000, porque tinha “o sonho de gerir empresas”. Ao longo da vida académica, foi Presidente da Associação de Estudantes e membro da Federação Académica do Porto. Hoje é o Presidente de Conselho de Administração das Águas de Gaia.
Comunica UPT: Que competências o curso lhe deu e que foram fundamentais para os desafios profissionais que abraçou?
Deu-me as competências académicas e, fundamentalmente, uma atitude muito prática, que é, aliás, apanágio da Portucalense. Esta componente prática, que faz parte do ADN da Universidade, faz toda a diferença, porque nos prepara para os desafios do mercado de trabalho.
Como viveu esses anos académicos?
De forma muito intensa! Acredito que quando entramos para a Portucalense, nos apaixonamos por esta Universidade, e o facto de ter sido dirigente associativo reforçou ainda mais essa ligação. Passávamos os dias na Universidade, grande parte do dia na Associação de Estudantes a preparar as várias iniciativas que organizávamos, era quase uma profissão, e era muito divertido. Divertidas eram também as festas académicas, com as Festas da Garagem na liderança, claro! Para além disso foi na Portucalense, ou no contexto académico em sentido mais lato, que fiz grande parte dos meus melhores amigos que ainda hoje perduram.
Depois da Licenciatura, como decorreu o seu percurso profissional?
O meu primeiro emprego foi em 1998, antes de entrar na Universidade, como guia num pavilhão da Expo 98, talvez o mais divertido que tive e que me deu muita experiência, principalmente no que do respeito ao contacto com várias pessoas e culturas. O meu percurso profissional conta já com várias e diferentes experiências – adjunto e, mais tarde, chefe de gabinete no Governo Civil do Porto, adjunto de um vereador na Câmara Municipal de Gaia, e funções no setor privado, tendo trabalhado no departamento comercial de uma empresa de tecnologia e num Banco, tendo ainda vestido a pele de empreendedor.
Um momento da sua vida profissional que tenha sido decisivo e porquê?
Ser Presidente da Águas de Gaia foi o mais decisivo, mas também o maior orgulho, pela oportunidade de pôr em prática algumas ideias, que acredito serem transformadoras e disruptivas para a empresa. Identifico também como de extrema importância, o convite para integrar a Associação Europeia de Operadores Públicos de Água, onde sou atualmente o único português nesta organização que representa 68 entidades gestoras que fornecem serviços de água e saneamento a mais de 70 milhões de cidadãos na Europa.
É atualmente Presidente do Conselho de Administração da Águas de Gaia. Neste contexto quais os principais desafios que abraça?
Ser Presidente do Conselho de Administração da Águas de Gaia é um enorme desafio. É uma empresa com um impacto muito grande na vida dos cidadãos e do próprio Município. É uma empresa com uma dimensão bastante considerável, quer em termos orçamentais, quer em número de colaboradores com cerca de 380 pessoas. Temos como desafios a aposta na modernização da empresa, na sua digitalização, na melhoria dos serviços ao cliente e num ambicioso plano global de redução de perdas de água, o qual já resultou num mínimo histórico, passando, assim, a integrar a lista dos concelhos que registam menores perdas de água na rede de abastecimento pública. A gestão de toda a orla marítima do Concelho e das suas praias, todas com bandeira azul, é também algo que sublinho de grande importância, a par do processo de internacionalização e cooperação internacional que temos vindo a desenvolver. A nossa ambição é sermos cada vez mais uma empresa sustentável, moderna e eficiente.
Regressou à Universidade Portucalense para integrar o Mestrado de Relações Internacionais. O que o levou a tomar esta decisão?
Tinha vontade de, como se diz na gíria, “voltar a estudar” e de reforçar as minhas competências académicas, estava dividido entre um mestrado na área da Gestão ou noutra área científica. Achei que o Mestrado em Relações Internacionais e Diplomacia tinha tudo a ver comigo e preenchia um outro lado da minha personalidade que estava no momento a desenvolver! A escolha foi, pois, influenciada por um lado, pelo gosto e interesse que há muito nutria por estas temáticas, e, por outro, porque coincidiu com a minha frequência no Curso de Defesa Nacional do Instituto de Defesa Nacional, o que aguçou ainda mais a minha vontade de aprofundar os conhecimentos em Relações Internacionais e porque achava, como se veio a comprovar, que os dois cursos poderiam ser complementares, um contribui para o outro e vice-versa.
Como se cruzam a Economia e as Relações Internacionais?
Num mundo cada vez mais global, o cruzamento entre as duas ciências é evidente. Os fenómenos económicos são cada vez mais influenciados pela geopolítica e vice-versa. De facto, a energia e os recursos naturais, sempre fizeram parte do xadrez da geopolítica mundial, das questões de soberania e da hegemonia dos Estados, como aliás se comprova hoje no contexto da guerra na Europa. Se passarmos para o campo das empresas, hoje em dia, é também cada vez mais importante ter uma visão global do mercado e dos negócios, por isso não tenho dúvida do benefício de juntar as duas áreas.
Um Gestor é um diplomata e um visionário do mundo?
Sem dúvida! Vivemos num mundo cada vez mais global e competitivo, e este facto faz com que a diplomacia deixe de ser um exclusivo dos governos, enquanto mecanismo de representação da política externa dos Estados, e ganhem relevância outros atores e outros conceitos como sejam a para-diplomacia e a diplomacia económica. Para além disso, tal como um diplomata, também um gestor tem que definir estratégias, negociar, conciliar vontades, influenciar práticas e decidir. Por isso, efetivamente grande parte do trabalho de um gestor é “trabalho diplomático” e, hoje, um gestor tem também que ser disruptivo, ter a capacidade de antecipar o futuro e ser, portanto, um visionário.
Tem algumas rotinas diárias que não abre mão? Se sim, quais?
Sim! Ver as capas dos jornais pela noite dentro, ao mesmo tempo, que vejo a agenda do dia seguinte e tento mentalmente organizá-lo. De manhã, passar os olhos pelas notícias e, depois, já no escritório, analisar alguns indicadores de performance referentes à atividade do dia anterior e, a partir daí, a agenda e o telemóvel ganham vida própria (risos).
No campo pessoal, tenho algumas rotinas que tento não abdicar, que são passear a “Maggie”, a minha cadela, ler um livro, nem que seja “meia dúzia” de páginas antes de adormecer e, “religiosamente”, aos sábados de manhã, ir com o meu filho à natação.
Que conselho deixa aos estudantes finalistas para o sucesso no mercado de trabalho?
O meu conselho é que trabalhem sempre com muita paixão e sejam criativos, que se foquem no essencial e definam objetivos e prioridades, e à medida que vão cumprindo os objetivos traçados, devem redefini-los, assim como as prioridades. Na ótica dos projetos, devemos sempre ter em conta a sua executabilidade, por isso o planeamento é fundamental. Mais vale um projeto de menor dimensão executado que um de maior dimensão inexequível. Outro conselho que me atrevo a dar, é o de trabalhar em equipa, decisões colaborativas, são por norma decisões mais assertivas. Para além disso, e voltando ao tal “perfil diplomata do gestor”, em cargos de liderança, prefiro muito mais envolver os demais na construção das ideias do que impor por si só a minha vontade.
Hobbies: Viajar, sendo que a amizade é o local onde mais gosto de estar!
Um livro: “Nome de Toureiro”, de Luís Sepúlveda e “Como evitar um desastre climático” de Bill Gates.
Uma música: De Nirvana a Mozart, o meu gosto musical é amplo e depende do momento. Hoje, em dia ouço muito música clássica, mas uma das músicas que mais gosto é a “Black” dos Pearl Jam.
Uma app: Whatsapp.
Um filme: “Hotel Ruanda”.
Uma série: “A Rapariga de Oslo”.
Um lema de vida: Ser apaixonado em tudo o que faço.
O lugar do Porto que mais o inspira: Todos os que tenham vista para o Rio Douro! Também me inspira muito o mar, mas aí ter que ser nas praias de Gaia.
A pessoa que mais o inspira e porquê: Nelson Mandela, pela forma como dedicou a sua vida à liberdade e aos direitos humanos. No campo empresarial, Steve Jobs é uma inspiração, pela sua veia visionária e resiliente. No campo diplomático, Jonathan Powell, diplomata e político, conhecido como “o mercenário da paz” devido aos vários processos de mediação de conflitos em que esteve envolvido.