Recentemente, a alumna Josefa Bastos, licenciada em Matemática e professora na Escola Básica e Secundária Dr. Ferreira da Silva (Cucujães, Oliveira de Azeméis), destacou-se pelos seus alunos terem obtido a impressionante média de 18,16 valores no exame nacional de Matemática A do ano passado. À “Comunica UPT”, Josefa recorda os anos de formação académica e reflete sobre os desafios do ensino da matemática.
Comunica UPT: Em que ano entrou na Universidade Portucalense (UPT) e quais as razões que a levaram a escolher a UPT?
Josefa Bastos: Entrei na Universidade Portucalense (UPT) em 2000. Apesar de ter sido colocada também numa universidade pública na mesma cidade, optei pela UPT a conselho de uma amiga que me falou com grande entusiasmo da qualidade do ensino, do corpo docente e da forma como a universidade funcionava. Os meus pais confiaram na minha decisão e apoiaram-me desde o início, o que me deu ainda mais segurança para seguir esse caminho. E ainda bem que o fiz! Guardo memórias muito felizes desses anos e uma enorme admiração pelos professores que tive, muitos dos quais se tornaram verdadeiras referências para mim, tanto a nível académico como humano.
O que a levou a escolher a licenciatura em Matemática?
Escolhi a Licenciatura em Matemática porque a Matemática é, desde sempre, a minha paixão. Fascina-me a sua lógica, a sua beleza, a forma como nos ensina a pensar. Passados 25 anos, voltaria a fazer exatamente a mesma escolha: o mesmo curso e a mesma universidade. Foi uma decisão que marcou o meu percurso e da qual nunca duvidei.
Como viveu esses anos académicos?
Vivi os meus anos de curso com uma enorme paixão pelo que fazia e por tudo o que me ensinavam. A cada nova aula, gostava ainda mais de Matemática e sentia cada vez mais certeza de que era isso que queria fazer para o resto da vida: ensinar. O desafio de tornar fácil aquilo que, à partida, parece difícil, tornou-se a minha missão. Tive professores absolutamente extraordinários, que explicavam com uma clareza tal que os conceitos mais complexos se tornavam acessíveis. Admirava tanto essa capacidade que comecei a sonhar em fazer o mesmo. Muitos desses professores continuam vivos na minha memória e no meu coração, e falo deles com frequência aos meus alunos. Foram verdadeiros modelos para mim.
Quais as competências conferidas pela licenciatura que considera fundamentais na sua carreira profissional?
Mais do que saber Matemática, é fundamental saber ensiná-la — e essa foi, desde o início, uma grande preocupação dos meus professores. Foram exemplares nesse aspeto, transmitindo não só conhecimento, mas também estratégias, práticas e atitudes pedagógicas que me marcaram profundamente. Desde o primeiro ano, fui recebendo dicas valiosas e assistindo a verdadeiras lições de como se ensina. Recordo com carinho algumas orais de defesa de nota em que me pediam que preparasse uma aula sobre determinado tema. Diziam-me: “A Josefa vai ser professora. É isso que queremos ajudá-la a ser: uma boa professora.” E foi exatamente isso que fizeram. Essa visão prática, humanizada e exigente da profissão foi essencial para tudo o que sou hoje.
Depois da Licenciatura, como decorreu o seu percurso profissional?
Logo no ano seguinte ao estágio comecei a dar aulas e, felizmente, nunca mais parei. Sempre consegui ficar colocada, o que considero uma sorte — especialmente por ser exatamente isto que adoro fazer. Como costumo dizer aos meus alunos, escolher bem a profissão é fundamental. Fazer o que se gosta faz toda a diferença na nossa vida.
Acordar bem-disposta, sair de casa feliz porque vou para a escola, entrar numa sala de aula com vontade e prazer, não tem preço! Não me imagino a fazer outra coisa. Ser professora preenche-me por completo e, por isso, desejo sempre aos meus alunos que encontrem também a profissão que os faz sentir assim: completos e realizados. Costumo dizer que tenho uma estrelinha da sorte que me acompanha. Nunca estive em escolas muito complicadas e, no geral, tive sempre turmas muito agradáveis, com quem é um prazer trabalhar. Tudo isso contribui para que continue, todos os dias, a gostar ainda mais do que faço.
Qual o “segredo” do sucesso dos seus alunos
A Matemática não tem segredos; tem trabalho, muito trabalho. Ninguém aprende a resolver problemas sem os resolver. Ninguém aprende a fazer exercícios sem os fazer. E foi isso que fiz com os meus alunos — e que eles fizeram comigo — ao longo de vários anos. A turma que terminou o 12.º ano no ano passado, e que obteve resultados excecionais no exame nacional de Matemática A, era constituída por alunos que acompanhei desde cedo, alguns desde o 7.º ano. Sempre trabalharam muito. Mesmo durante a pandemia, em que fizeram o 8.º e 9.º anos em casa, reuníamo-nos no Teams, fora do horário letivo, para garantir que não ficavam com lacunas e que entravam no ensino secundário com bases sólidas. No secundário, faziam tudo. Resolviam todos os exercícios do manual, de outros manuais, de livros de preparação para exame, testes de diferentes editoras — tudo. O que fiz de diferente? Estive ao lado deles. Trabalhei com eles. Estive sempre disponível, mesmo fora de horas, e estudei com eles todos os dias, o dia inteiro, na reta final para o exame. Era impossível não estar disponível para alunos assim. Tínhamos tardes de estudo na escola, sessões de esclarecimento a qualquer hora. Dar aulas a esta turma foi verdadeiramente especial. Tinham sede de saber, queriam perceber o porquê de tudo, e tornavam cada aula num espaço de descoberta. Gostavam de tudo e sabiam tudo, e queriam sempre mais.
Como se aprende a gostar de matemática?
Da mesma forma que se aprende Matemática: estudando. Não se aprende Matemática sem trabalho. No entanto, quando nos dedicamos e começamos a perceber os conceitos, aí é que a magia acontece. A partir desse momento, conseguimos ver a beleza incomparável da Matemática, e o processo de aprendizagem torna-se fascinante. A partir daí, é um caminho sem retorno: quem começa a gostar, gosta cada vez mais.
O que significa para si ser Professora?
Ser professora é a vida que escolhi e que voltaria a escolher, sem hesitar. É a minha grande paixão. Adoro ensinar, adoro ir para a escola e, acima de tudo, adoro trabalhar com adolescentes. Ver o crescimento dos alunos, o brilho nos olhos quando compreendem algo pela primeira vez, é algo que me preenche de uma forma única. Ser professora não é apenas uma profissão para mim; é a minha vocação.
Ao longo da sua carreira profissional, quais as aprendizagens que estão sempre presentes?
A motivação dos alunos é um desafio constante, e aprender a despertar o seu interesse pela Matemática, mostrando a sua aplicabilidade e criando um ambiente de aprendizagem positivo, é uma aprendizagem que nunca termina.
Qual o conselho que deixa aos estudantes finalistas para o sucesso no mercado de trabalho?
Acredito firmemente que trabalhar com paixão é o alicerce para o sucesso. Quando nos dedicamos de corpo e alma àquilo que fazemos, a motivação e a excelência tendem a surgir naturalmente. Nunca se esqueçam que o mercado de trabalho está em constante mudança, por isso, a aprendizagem contínua é essencial. Mantenham-se atualizados e procurem sempre novas formas de desenvolver as vossas competências. Sejam proativos na procura de emprego e mostrem iniciativa nas tarefas que vos forem atribuídas. A adaptabilidade e flexibilidade serão também importantes num mercado por vezes incerto.