Universidade Portucalense – Infante D. Henrique

Universidade Portucalense Infante D. Henrique is a cooperative higher education and scientific research establishment

O Gestor que comprou a Firmo e a Staples Portugal

Miguel Santos Carvalho, administrador da FIRMO, entrou na Universidade Portucalense em 1992 para estudar Gestão de Empresas. Fez parte da AIESEC e recorda com nostalgia a Queima das Fitas.

Comunica UPT: Escolheu Gestão de Empresas. A condução dos negócios da família condicionou a escolha do curso?

Miguel Santos Carvalho: Não! O negócio da família, a FIRMO, tinha sido vendido, pelo meu pai, dois anos antes da minha entrada na Universidade Portucalense, pelo que a condução daquele negócio não se colocava. Diria que a escolha do curso resultou de uma seleção natural. Sempre convivi com o espírito empresarial e empreendedor do meu pai e, desde cedo, percebi que aquele seria o caminho que gostaria de trilhar.

Como viveu esses anos académicos?

Creio que aproveitei muito bem, tendo feito as coisas que a maioria das pessoas faz naquela fase das suas vidas. Cultivei também novas amizades, algumas das quais permanecem ainda hoje, 25 anos depois de ter terminado o curso.

Que competências o curso lhe deu e foram fundamentais para este desafio profissional?

Desde logo, no meu primeiro emprego como auditor financeiro, na Deloitte, as competências técnicas em contabilidade e auditoria foram essenciais. Depois, enquanto gestor, devo realçar as valências adquiridas em Gestão e Gestão Operacional, os conhecimentos das Ciências Sociais e do Direito. De resto, as matemáticas permitiram adquirir uma maior facilidade e agilidade de raciocínio.

Um momento da vida académica que nunca esqueceu?

Recordo-me na Queima das Fitas, enquanto finalista, de ter ido “pegar o touro” dos curiosos na garraiada, tendo sido mais o touro a pegar a todos! É claro que a última Queima das Fitas me marcou, como marcou e continuará a marcar a maioria dos universitários. Há um sentimento misto de nostalgia, por estarmos a terminar o curso e, simultaneamente, de dever cumprido com a aproximação da carreira profissional.

Depois da licenciatura, como decorreu o seu percurso profissional?

O meu primeiro emprego foi de auditor financeiro, na Deloitte, em setembro de 1997. Foi uma passagem de dois anos numa “escola” também ela muito importante no meu futuro. Para além de bons colegas de trabalho, com quem muito aprendi, tive também a oportunidade de contactar com muitas empresas de diversos setores de atividade, que me ajudaram a conhecer e perceber melhor o mundo dos negócios. Depois, abracei, juntamente com o meu irmão Rui, a gestão de uma empresa industrial, detida pela nossa família, os meus pais e os meus três irmãos, sendo eu o mais novo dos quatro. Esta empresa produzia e vendia exclusivamente envelopes e sacos de papel. Era uma pequena empresa com um volume de negócios de 2 milhões de euros. Passámos por um processo de modernização, com novas instalações, certificação da qualidade, processos de melhoria contínua, entre muitas outras coisas que a gestão anterior não valorizava tanto. Por se tratar de um negócio mono-produto e que estava com uma tendência de redução de consumo, começámos a olhar para possíveis soluções de diversificação e consolidação. Assim, em 2011, já depois do nosso pai ter falecido, encontrámos a oportunidade de readquirir a FIRMO à Antalis, uma multinacional de capital francês. Este processo de compra foi uma aprendizagem fantástica, pois negociámos com um colosso que faturava cerca de mil milhões de euros. Para o efeito, rodeámo-nos de muito bons ‘advisors’, a nível económico-financeiro e legal.

A mais recente conquista é a compra da Staples Portugal…

Sim, nestes últimos 10 anos, criámos empresas e adquirimos outras. A última das quais, em plena pandemia e seguindo a ambição e o empreendedorismo que nos corre no sangue, adquirimos a Staples Portugal. Esta aquisição permitiu-nos, para além da criação de inúmeras sinergias a vários níveis, crescer para um volume de negócios consolidado superior a 100 milhões de euros. Por outro lado, conseguimos estar em toda a cadeia de valor, desde a produção ao consumidor final. Considero, assim e sem falsa modéstia, que tem sido um percurso bem-sucedido, onde me sinto realizado, mas com a clara sensação que ainda há muitos projetos para desenvolver e concretizar.

Numa época de crescente digitalização, de que modo o papel pode ter futuro?

Essa é uma pergunta que muitos me colocam e nós próprios nos colocamos… O papel tem várias virtudes e utilizações. Se, por um lado, há uma clara tendência para a desmaterialização, por outro há um crescimento no consumo de papel, nomeadamente nas embalagens, decorrente de questões ambientais e do ‘boom’ do ‘e-commerce’. Há uns anos, o papel era o “patinho feio” porque diziam que deteriorava as florestas, mas a verdade é que o papel é uma matéria sustentável. E a substituição do plástico pelo papel é hoje uma realidade bem vincada. Esforçamo-nos também por criar produtos transformados de papel com maior valor acrescentado, por alternativa às ‘commodities’, que os clientes valorizem e comprem não apenas porque precisam do produto, mas porque gostam e querem o produto. Num outro sentido, mas de enorme importância, há inúmeros estudos que concluem que a aprendizagem feita em papel é fundamental para o desenvolvimento cognitivo das crianças, pois estimula a memória e a criatividade e tem boas implicações a nível social, por oposição aos meios tecnológicos. Por fim, temos um plano de investimento em Investigação e Desenvolvimento que nos permitirá desenvolver um papel inteligente, com diversas aplicações, mas neste momento não posso divulgar mais.

No seu dia-a-dia de gestor, em que atividade não dispensa o papel?

Em reuniões.

A sua agenda e o seu livro de notas são em papel?

Sim, claro.

Tem algum produto da Firmo que não dispensa?

O Caderno Azul, um ‘notebook’ com a imagem recriada a partir do clássico Livro de Actas.

Tem algumas rotinas diárias de que não abre mão? Se sim, quais?

Gosto de chegar cedo e analisar a faturação e outros KPI’s do dia anterior.

Que conselho deixa aos estudantes finalistas para o sucesso no mercado de trabalho?

Trabalho, dedicação, lealdade são valores fundamentais. O caminho faz-se caminhando, pelo que dificilmente conseguirão encontrar o “emprego da vida” à primeira. Há que ir à luta e, quando não satisfeitos, procurar melhor. A aprendizagem continua sempre e, dependendo do percurso, o arrojo e a astúcia são importantes. Importa também medir o risco das decisões que tomamos. Manter e estimular as boas relações com quem nos vamos cruzando ao longo da vida, profissional e pessoal, pois uma boa network pode fazer milagres!

Todos temos um “papel” nesta vida. Qual é o seu?

Diria que tenho dois papéis principais na minha vida: a de marido e pai de três filhos e a de empresário e gestor de negócios. Como pai, gostaria de deixar aos meus filhos um legado de bons valores pessoais e humanos, a capacidade de, autonomamente, singrarem na vida, fazendo aquilo que gostam, tanto a nível pessoal como profissional.

Como empresário e gestor, o meu papel principal é o de acrescentar valor aos negócios em que estou envolvido, bem como às pessoas que comigo trabalham e restantes ‘stakeholders’.

Idade: 47

Lugar onde vive: Porto

Hobbies: Desporto, convívio com a família e amigos e leitura

Um livro: “Os Pilares da Terra”, de Ken Follett

Uma música: “Bicho de 7 Cabeças”, de Geraldo Azevedo

Uma app: WhatsApp

Uma série de TV e/ou um filme: O Padrinho

Um lema de vida: Trabalhar com prazer e ambição, viver com alegria e saber relativizar.

O lugar do Porto que mais o inspira: As marginais marítima e fluvial da cidade do Porto

A pessoa que mais o inspira e porquê: Os meus Pais. A minha mãe pela sua inteligência emocional, afetividade, espírito conciliador e capacidade de trabalho; o meu pai, pelo seu espírito empreendedor, inteligência, astúcia e alegria. Juntos conseguiram passar-nos todos estes valores de uma forma natural, que permanecem no tempo e são transmitidos às gerações seguintes.

O Gestor que comprou a Firmo e a Staples Portugal
Voltar ao topo