Universidade Portucalense – Infante D. Henrique

Universidade Portucalense Infante D. Henrique is a cooperative higher education and scientific research establishment

“Não devemos desistir de algo antes de tentar e de dar o nosso melhor”

Flávia Sequeira, 32 anos, licenciada em Administração Pública, não abdicou do sonho de estudar Psicologia. Atualmente no terceiro ano da licenciatura, foi distinguida pelo seu desempenho académico, recebendo a homenagem com a filha Clara, de apenas dois meses, ao colo. Natural de Vila Nova de Gaia, cultiva ainda o gosto pela leitura e pela culinária.

Comunica UPT: O que significa para si ter sido reconhecida como a melhor estudante da licenciatura de Psicologia?

Flávia Sequeira:A nível pessoal é uma conquista muito grande. Inicialmente, quando entrei para o curso, achava que não seria capaz. Além disso, tinha um trabalho exigente e pensei que não iria conseguir conciliar. À medida que fui sendo bem-sucedida, percebi que a falta de confiança é o que nos leva muitas vezes a falhar antes de sequer tentar. Fez-me perceber que, no meio de todas as barreiras que existem e nos limitam, nós somos, muitas das vezes, a primeira barreira. Aprendi que não podemos ser os primeiros a limitar-nos, a achar que não somos capazes sem sequer tentar, temos de estar do nosso lado e torcer por nós. A nível profissional, deu-me um sentimento de realização muito grande e motivou-me para continuar e não desistir deste percurso. 

Ao longo da licenciatura, quais foram os maiores desafios que enfrentou e de que forma os conseguiu superar?

Eu sou trabalhadora-estudante desde o primeiro ano da licenciatura. Tenho um trabalho a tempo inteiro, exigente e que me ocupa a maior parte do meu tempo. O meu primeiro desafio foi lidar com a frustração de não poder estar presente em muitas das aulas; lidar com o sentimento de que estava a perder uma experiência da qual gostaria de fazer parte em pleno. Foi também difícil gerir os interesses pessoais e profissionais com os interesses da minha entidade empregadora. A função de trabalhador-estudante é algo que ainda só é apoiada, incentivada e vista como positiva no papel, na teoria, mesmo que isso resulte numa valorização dos recursos humanos. Foi também um desafio, saber lidar com a sobrecarga. Tive momentos de exaustão, naturalmente. Nestes momentos foi muito importante parar. Lá está, fazer uma gestão das prioridades e, muitas vezes, a prioridade somos nós, as nossas necessidades. Por vezes parar um fim de semana e descansar, fazer o que me apetecesse, era o suficiente para recarregar e conseguir encarar o resto das tarefas com energia.

A maternidade surgiu numa fase especial da sua vida académica. Como foi gerir estas duas jornadas tão exigentes?

No meu caso, foi algo planeado e muito desejado. A gravidez foi uma etapa muito feliz para mim e para o meu marido. Grande parte da minha gravidez passei-a a trabalhar e a estudar e, por isso, sinto que aproveitei cada momento. Quando a Clara nasceu, senti que a minha vida ficou completa, tenho tudo o que posso querer, neste momento.

Em que medida a maternidade transformou ou ampliou a sua visão sobre a Psicologia?

A mais evidente é a saúde mental no pós-parto que, atualmente é reduzida ao baby blues ou à depressão pós-parto, mas é muito mais do que isso. Desperta-nos para o pouco conhecimento de muitos profissionais naquilo que é matéria de saúde mental e nem se apercebem da influência que têm na vida de uma mulher grávida ou recém-mamã. Vejo que há muito trabalho que ainda precisa de ser feito neste âmbito e que é absolutamente fundamental.

Alguma vez ponderou desistir ou abrandar o ritmo dos estudos? O que a motivou a continuar?

Quando enfrentamos momentos de muito cansaço e de frustração, começamos a pensar que outras alternativas temos para aliviar esse sentimento. Essa possibilidade já me passou pela cabeça, sim, sem dúvida. Mas depois é importante ponderarmos os motivos pelos quais essa opção nos surge e se realmente é o melhor para nós, se tem algum fundamento ou se nos traz algum benefício. Não defendo a frase “nunca desistas!”, porque, efetivamente, é importante saber desistir quando devemos; é importante sabermos quando recalcular e mudar a rota, quando algo nos traz mais prejuízo do que benefício. Mas até agora, não houve nada que me fizesse decidir desistir e a minha motivação para continuar é a mesma. Quanto ao que me motivou para continuar, acredito que, em parte, foi o facto de a minha experiência de trabalho até hoje me ter mostrado que esta é a área que tem a ver comigo, com quem sou. Acredito também que o facto de gostar de aprender também seja um grande motivador. E, acima de tudo, gostava de ser um exemplo para a minha filha, de lhe mostrar que nunca é tarde para mudarmos de vida, tomarmos decisões que possam causar grandes mudanças e que, especialmente, não devemos desistir de algo antes de tentar e de dar o nosso melhor.

“Não devemos desistir de algo antes de tentar e de dar o nosso melhor”
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